9 de novembro de 2007

Poema de Natal...

por Vinícius de Moraes...

Para isso fomos feitos:
para lembrar, e ser lembrados,
para chorar e fazer chorar,
para enterrar os nossos mortos...
Por isso temos braços longos para os adeuses,
mãos para colher o que foi dado,
dedos para cavar a terra...
Assim será a nossa vida:
uma tarde sempre a esquecer,
uma estrela a se apagar na treva,
um caminho entre dois túmulos...
Por isso precisamos velar,falar baixo,pisar leve,
ver a noite dormir em silêncio,
não há muito o que dizer:
uma canção sobre um berço,
uma verso talvez de amor,
uma prece por quem se vai...
mais que essa hora não esqueça
e por ela os nossos corações se deixem graves e simples,
pois para isso fomos feitos:
para a esperança do milagre,
para a a participação da poesia,
para ver a face da morte.
De repente nunca mais esperaremos!
Hoje a noite é jovem
Da morte apenas nascemos...imensamente...

8 de novembro de 2007

Cuidado...

Cuida De Mim
Fernando Anitelli
"O Teatro Mágico"

Pra falar verdade, às vezes minto,
Tentando ser metade do inteiro que eu sinto...
Pra dizer, às vezes, que às vezes não digo,
Sou capaz de fazer da minha briga meu abrigo...

"Tanto faz" não satisfaz o que preciso,
Além do mais, quem busca nunca é indeciso...
Eu busquei quem sou,
Você pra mim mostrou
Que eu não sou sozinha nesse mundo.

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você...
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser...
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você...
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...

Basta as penas que eu mesmo sinto de mim,
Junto todas, crio asas, viro querubim,
Sou da cor do tom, sabor e som que quiser ouvir,
Sou calor, clarão e escuridão que te faz dormir...

Quero mais, quero a paz que me prometeu,
Volto atrás se voltar atrás assim como eu...
Busquei quem sou,
Você pra mim mostrou
Que eu não estou sozinha nesse mundo...

Cuida de mim enquanto não me esqueço de você...
Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser...
Cuida de mim enquanto não me esqueço de você...
Cuida de mim enquanto finjo... Enquanto fujo...

4 de novembro de 2007

Matemática...

- Bom dia - disse o pequeno príncipe.
- Bom dia - disse o vendedor.
Era um vendedor de pílulas especiais que saciavam a sede. Toma-se uma por semana e não é mais preciso beber.
- Por que vendes isso? - perguntou o principezinho.
- É uma grande economia de tempo - disse o vendedor. - Os peritos calcularam. A gente ganha cinqüenta e três minutos por semana.
- E o que se faz com esses cinqüenta e três minutos?
- O que a gente quiser...
"Eu", pensou o pequeno príncipe, "se tivesse cinqüenta e três minutos para gastar, iria caminhando calmamente em direção a uma fonte..."
(O Pequeno Príncipe, pg. 76, cap. XXIII)