6 de novembro de 2010

uma parte de mim...



Nalgum lugar em que eu nunca estive
alegremente além de qualquer experiência,
teus olhos tem o seu silêncio,
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto...
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra,
embora eu tenha me fechado como dedos nalgum lugar...

me abre sempre, pétala por pétala,
como a primavera abre, tocando sutilmente, misteriosamente
a sua primeira rosa, sua primeira rosa...
ou se quiseres me ver fechado, eu e minha vida
nos fecharemos belamente, de repente
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda parte...

nada que eu possa perceber nesse universo iguala
o poder de tua intensa fragilidade, cuja textura
compele-me com a cor de teus continentes
restituindo a morte e o sempre cada vez que respiras...

(não sei dizer o que há em ti que fecha e abre)
só uma parte de mim compreende que a voz dos teus olhos
é mais profunda que todas as rosas
(ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas)


("Nalgum Lugar" -Zeca Balero)